
Primeiramente, gostaria de agradecer ao fotografo Uchoa Silva por me ceder estas belíssimas imagens do Círio do Menino Deus em Vila Maú, Marapanim-PA. Até onde eu sei, este é o primeiro círio do ano - pelo menos a nível de região nordeste paraense - e é um grande espetáculo de fé e devoção. Realizado todo segundo domingo de janeiro, o Círio do Menino Deus começa sobre as águas do rio Maú, que banha a comunidade. A imagem do padroeiro é colocada num andor, em seguida numa canoa ornamentada com flores naturais. A procissão fluvial, digamos assim, tem um percurso de aproximadamente 2 a 3 quilômetros até chegar a sede da Vila, onde a caminhada segue pelas ruas indo em direção igreja que recebe o nome do santo padroeiro.
Eu tenho uma relação particular com Vila Maú. Cresci indo para lá, já que o meu pai nasceu na comunidade e tinha muito orgulho disso - eu também. Vivi algumas edições deste círio do Menino Deus e afirmo que nunca nenhum foi igual ao outro. Este ano, por exemplo, o rio estava cheio em razão do período de chuvas ter começado mais cedo na região. Logo, os romeiros que puxam a canoa com a imagem do padroeiro enfrentaram uma dificuldade maior devido a correnteza e trechos em que os pés não tocavam a areia no fundo do rio.
Em outros anos, o rio estava com volume de água menor (mais seco), daí a procissão seguia com mais facilidade. Geralmente quem carrega o andor são os promesseiros escolhidos pela diretoria da festa. Chama a nossa atenção a quantidade de jovens participando da caminhada - um exemplo vivo de que a devoção em Vila Maú começa desde pequeno.
Ao longo da semana que antecede a procissão, a comunidade vive dias de festa em frente a igreja matriz, na Praça Menino Deus. Bingos, venda de comidas típicas faz parte dos festejos.
No mês de julho, período de ferias escolares, a comunidade celebra São Benedito. A festividade também conta com procissões e arraial durante uma semana, a noite.
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Imagem do Menino Deus deixa a igreja da comunidade Taperinha e segue em direção ao rio Maú |
Bom, não posso deixar de sugerir Vila Maú como destino para um mochilão. A comunidade, na verdade, é um distrito de Maraparim, a terra do carimbó. Apesar de estar na região do salgado, a vila é apelidada carinhosamente de "princesinha da água doce" por causa do rio que banha o vilarejo. O local, fora da alta temporada, é um paraíso para quem busca sossego. Antigamente, ia para lá somente quem te parentes ou amigos com residência local, mas atualmente já há quartos para alugar. Não sei os valores da diária.
A comunidade é muito receptiva. A economia local é agricultura - deixo como dica você fazer amizade com moradores locais e pedir para eles te levarem ao centro onde fazem farinha de mandioca. É uma experiência interessante, diga-se de passagem!
A comunidade é muito receptiva. A economia local é agricultura - deixo como dica você fazer amizade com moradores locais e pedir para eles te levarem ao centro onde fazem farinha de mandioca. É uma experiência interessante, diga-se de passagem!
Vila Maú foi objeto de estudo do meu TCC. Estudei a influência da televisão no imaginário social da localidade. Segue um resumo da pesquisa:
A representação a televisão para os moradores de Monte Alegre do Maú. Esta é a ideia principal deste estudo feito para compreender como este veículo de comunicação de massa pode influenciar no imaginário social e na vida dos moradores de uma pequena comunidade rural no interior do Estado do Pará. Com a chegada da TV em Vila Maú, os habitantes do lugar passaram a acreditar que não moram mais distante dos grandes centros urbanos, nem mais estavam atrasados temporalmente, e, sim, entraram para a “modernidade”.
A pesquisa abre espaço para a discussão sobre a construção do imaginário social a partir da televisão, levando em consideração a representatividade da televisão, bem como a sua influencia direta e indireta. Em Vila Maú, não se encontra mais rodas de conversas em frente de casa. A dona de casa já não lava mais roupa na beira do rio. A conversa entre e mãe e filha foi substituída pela TV que não leva apenas imagem em movimento e som, mas novas formas do espectador estar inserido no mundo e de dizer quem é, o que faz, o que diz e no que acredita. O agricultor local, não se diz mais um caipira.
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