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Bragantinos se despedem de Lucas Gomes. Foto: Maycon Nunes |
Os gritos, em coro, dos bragantinos que exclamavam “o campeão voltou!” para homenagear o jogador Lucas Gomes, 26, de fato, comprovaram quem um ídolo de futebol voltava para casa como um verdadeiro campeão – não por ter sido premiado em campeonato, mas por ter conquistado o coração de todos os paraenses, que formaram uma única torcida. Ontem (5), o corpo do atleta finalmente foi sepultado no cemitério Maria Augusta, na vila de Nova Canindé, zona rural de Bragança, nordeste paraense, em uma solenidade que ficará eternamente na memória de familiares, amigos ou de quem viveu esse momento de dor pela morte do jogador. Ele foi uma das vítimas da tragédia do avião da Lamia que caiu em Medelin, na Colômbia. Exatas 71 pessoas morreram no acidente, entre elas jornalistas e a maior parte da delegação da chapecoense, clube no qual o Lucas jogava na posição de atacante.
O sepultamento de Lucas Gomes ocorreu no sétimo dia após a tragédia. O corpo, que chegou à Bragança na noite de domingo (4), foi velado durante 17 horas. No início da manhã de ontem (5), o caixão deixou o Ginásio do Senai e seguiu em carro aberto pelas ruas da cidade. A missa de corpo presente prevista para antes da carreata foi suspensa, ainda na noite anterior, para ser realizada em Nova Canindé, onde ocorreu.
Moradores e comerciantes enfeitaram as fachadas de suas casas e estabelecimentos com balões nas cores do chapecoense (verde e branco) e preto. Faixas, cartazes e orações completaram as homenagens. “Ele se tornou um mito do futebol”, destacou a dona de casa Maria de Jesus Martins, 44 anos, que assistiu o cortejo passar em frente a sua casa.
A Polícia Militar não divulgou balanço sobre estimativa de público que participou da carreata, mas o cortejo chegou a uma dimensão tamanha que dava para ser comparado a uma procissão religiosa, seguida por motociclistas, ciclistas e pessoas correndo atrás da viatura do Corpo de Bombeiros que conduzia o caixão.
Em frente às igrejas, hospitais e escolas também ocorreram diversas manifestações, mas uma das mais emocionantes foi realizada em frente ao Instituto Santa Terezinha, onde uma chuva de rosas vermelhas banhou o carro dos bombeiros e um grupo de crianças abraçou o veículo. Os pais de Lucas Gomes - a dona Eliete Bezerra, 52, e o seu Luiz Gomes, 69 – receberam uma coroa de flores em formato de cruz entregue a eles por representante da direção do instituto.
Com os olhos cheios de lágrimas, o tio de Lucas, Marcos Bezerra, não escondia a emoção de se despedir do sobrinho e dizer o quanto sentia orgulho. “A humildade dele se eternizará em todos nós. Ele esqueceu as suas origens e sempre foi querido por todo mundo. Hoje, mais que nunca, é querido por todos”, disse.
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A caminho de Nova Canindé, na estrada, mais homenagens a Lucas. Foto: Maycon Nunes |
Quando o cortejo chegou ao ramal que leva a comunidade rural de Nova Canindé, o caixão foi colocado em outro carro do Corpo de Bombeiros – este já fechado. A troca se deu em virtude das condições da estrada que é de piçarra e cheia de buracos. Ao longo do percurso, apesar da poeira, as homenagens continuaram sendo feitas em sinal de adeus ao jogador, que por muitos anos andou por ali de carona ou de bicicleta para ir jogar futebol e seguir em busca da realização do sonho de se profissionalizar no esporte.
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Últimas homenagens ao jogador. Foto: Maycon Nunes |
Após uma hora e meia de viagem o traslado chegou a vila e o caixão foi colocado próximo a um altar no centro da praça em frente a igreja de Francisco de Assis, cujo o sino soou em badalos lentos. Uma bandeira do Canindé Futebol Clube foi colocada sobre o caixão. A praça ficou tomada de gente, todos destacando o quanto Lucas era querido por todos e admirado por sempre ajudar os seus familiares e amigos. A família do jogador recebeu diversos abraços solidários, mas respeito ao momento e as circunstâncias ninguém da imprensa tentou entrevistar os pais novamente. Eles ficaram o tempo todo ao lado do caixão.
No campo de futebol de Nova Canindé uma bandeira preta foi levantada no centro do gramado, em sinal de luto.
Com a música “Noites traiçoeiras” cantada por amigos, o caixão com o corpo do jogador entrou ao cemitério Maria Augusta, distante a 1 quilômetro do centro do vilarejo. Aplausos e gritos de torcidas quebravam o silêncio. Ali ficará em descanso eterno alguém que será lembrado por gerações e que sua trajetória servirá de inspiração para dezenas de crianças e jovens de Bragança que sonham se tornar jogadores de futebol profissional.
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