Bragança-PA: Luto pelo jogador Lucas Gomes

As bandeiras a meio mastro no Estádio São Benedito "O Diogão", na entrada do município de Bragança, no nordeste paraense, indicavam o luto. No centro do campo a bola parou de rolar durante o minuto de silêncio feito pelos homens que costumam jogar uma pelada, todo fim de tarde. Eles fizeram um círculo, deram as mãos e rezaram um Pai Nosso. Todo este ritual teve um significado importante. Foi no gramado do Diogão que o jogador Lucas Gomes deu os seus primeiros passos para se profissionalizar no futebol e se consagrar um ídolo na terra da Marujada.
Foi ali que há 9 anos Lucas foi visto pelo professor Ivan Almeida, então técnico do Bragantino, na categoria Sub-20, que observou a velocidade e a força na qual o atleta tinha em campo. "Já tinham me falado muito sobre ele. O Lucas já era conhecido por suas atuações nas copas rurais que eram promovidas na região bragantina, atentou Ivan.
Na época Lucas Gomes tinha apenas 17 anos de idade - novo, para jogar profissionalmente, mas com o talento maduro. Passou a integrar o time do Sub-20 do Bragantino, onde ficou por dois anos na categoria e mais um ano como jogador profissional. "Desde então eu acompanhei passo a passo a evolução do Lucas, que explodia em campo", acrescentou Ivan.
Muitas pessoas, talvez, pudessem considerar que àquele momento vivido pelo atleta era um sonho de criança - e era! No entanto, o sonho de menino foi realizado por um rapaz que jogava como gente grande, que de Bragança para o Brasil - e agora para o mundo - mostrou o seu talento e assinou o nome em camisas, clubes, campeonatos.
Começou a carreira no Bragantino, jogou em times como São Raimundo (Santarém), Ananindeua, Tuna, Castanhal, Sampaio Correia (MA), Fluminense e Chapecoense. Uma trajetória acompanhada por Ivan, que de treinador passou a fã do jogador.
Matéria publicada, no Diário do Pará (30/11/16).
Por Denilson d'Almeida/Fotos: Wagner Santana
Lucas era o filho caçula dos agricultores Eliete Bezerra, 52, e Luiz Gomes, 69. A família morava na comunidade Montenegro, na zona rural de Bragança. A mãe lembra que a primeira chuteira que o caçula calçou foi dada pelo irmão mais velho dele, Renato Gomes, 33, que mora em Porto Velho.
"A gente não tinha condições de poder ajudar sempre o Lucas, a família sempre foi unida e quando se tratava de ajudar uns aos outros ninguém hesitava", disse a dona Eliete. "Quando o Renato deu o primeiro par de chuteiras para o Lucas disse para ele que queria vê - lo dando entrevista para a TV e quando isso aconteceu, pela primeira vez, o Lucas citou as palavras do irmão", lembrou.
Daí em diante a família só teve a vibrar junto com Lucas. Ele em campo, fazendo gols, e se destacando ainda mais como atleta e tendo divulgação mídia.
As últimas notícias sobre Lucas na mídia, porém, não trouxeram alegrias para a família, nem para os bragantinos e nem para os brasileiros. Ainda era madrugada do dia 29 de novembro quando a família tomou conhecimento que o avião em que o atleta viajava para a Bolívia caiu e ele estava entre os que não sobreviveram ao acidente.
A informação logo se espalhou pela cidade e Bragança amanheceu silenciosa. A atenção dos moradores se voltava para a casa onde os pais do atleta moram, no bairro Traíra. Ninguém acreditava no que tinha acontecido. 
A dona Eliete, consternada, chegou a telefonar diversas vezes para o celular de Lucas, na esperança que ele atendesse as ligações. Isso não aconteceu. Foi difícil acreditar, mais difícil ainda aceitar.
"Eu quero que as pessoas lembrem do meu filho como um rapaz que realizou o seu sonho de ser um jogador de futebol profissional", desabafou tentando engolir o choro. "Desde pequeno ele sempre gostou de futebol. Enfrentou muitas dificuldades e superou todas. Em Montenegro ele não teve oportunidades, isso aconteceu quando ele veio jogar em Bragança", frisou Eliete.
Ela ainda ressaltou que a reforma da casa foi feita pelo filho, que nunca desamparou a família. O sucesso não lhe subiu a cabeça. 
O pai de Lucas, o seu Luiz, não conseguiu conversar com a reportagem. Emocionado, chorou em silêncio, abraçado a uma camisa do Chapecoense que pertenceu ao filho. A última vez que falaram com Lucas foi sábado passado (24) por telefone. "Foi uma ligação rápida porque estávamos tendo uma festa de aniversário em casa", contou Eliete.
Lucas não tinha filhos, mas vivia em união estável com Aquinoan Carvalho, 28, com quem já tinha um relacionamento de 8 anos. Muito abalada com a morte precoce do rapaz, ela chorava muito vendo a foto dele e as camisas dos clubes nos quais jogou. "Eu estava morando com ele em Santa Catarina. Voltei semana passada porque ele já vinha para Bragança agora em dezembro, de férias. Me mandou na frente", lembrou.
Ela também chegou a telefonar várias vezes para o celular de Lucas quando soube da notícia de sua morte, mas quando as ligações deixaram de ser completadas Aquinoan se deu conta de que era verdade.
Para o mês de dezembro Lucas e alguns amigos estavam organizando um jogo beneficente no estádio Diogão, em Bragança. "Era a segunda vez que ele (Lucas) estava organizando esse jogo. Ano passado ele fez isso é trouxe alguns amigos jogadores conhecidos", contou o professor de Educação Física João Monteiro, amigo de Lucas desde a adolescência.
"Quem vinha assistir o jogo doava um quilo de alimento ou um brinquedo para ser distribuído às crianças carentes da zona rural", comentou João, que pretende continuar o projeto em homenagem ao amigo.
"Faremos isso por ele que nunca esqueceu as suas origens e as pessoas com quem cresceu", completou.
Lucas Gomes chegou a conversar com os pais que quando chegasse a hora de se aposentar do campo pretendia fazer isso em um time paraense, onde estaria mais perto de sua casa.

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