A procissão mariana mais antiga
do Estado completou 319 anos de tradição
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Imagem de Nossa Senhora de Nazaré na berlinda (Foto: DENILSON D'ALMEIDA) |
Um rio de fé tomou conta das ruas estreitas e históricas de Vigia, nordeste paraense, neste domingo (11), durante o 319º Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que reuniu cerca de 150 mil pessoas. A cidade ganhou as cores azul e branca para celebrar a ocasião. A procissão, que é considerada uma das mais antigas do Estado, durou 3 horas e 50 minutos, iniciando na Paróquia de São Sebastião, no bairro do Arapiranga, em seguindo até a Igreja Matriz Madre Deus, onde uma missa foi presidida pelo Bispo de Castanhal Dom Carlos Verzeletti. Por onde passou, a imagem da padroeira dos paraenses foi saudada com queima de fogos e recebeu diversos tipos de homenagens – uma delas feito pelo grupo de carimbo Beija Flor que cantou e tocou uma música, de própria autoria, em devoção a Virgem de Nazaré. A festividade segue até o próximo dia 26.
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A corda é puxada por promesseiros (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
O sol ainda nem tinha nascido quando centenas de pessoas seguiam em direção a Paróquia de São Sebastião para participar da celebração de abertura do Círio de Nazaré. Às 6h30, os primeiros promesseiros da corda começaram a chegar para marcar o lugar e agradecer pela graça alcançada. “Eu vim para agradecer a saúde da minha filha, que esteve doente e pedi a intercessão de Nossa Senhora”, contou o servidor público Manoel do Rosário, 44 anos.
Pouco antes das 8h, antes de ser colocada na berlinda - que este ano foi ornamentada com rosas nas cores branca e azul – a imagem foi conduzida pelo padre José Carlos Silva em direção aos promesseiros da corda e demais fieis que já estavam prontos para encarar a procissão, cujo trajeto é de 3 quilômetros.
Em 2016, o tema do Círio de Vigia foi “Maria, mãe de misericórdia”, inspirado na oração da Salve Rainha. “A gente quer chamar a atenção para o amor e a misericórdia que Maria, a mãe de Jesus, viveu e nos ensina”, frisou o padre. “A nossa preparação para o Círio começa em janeiro e a gente espera que os frutos desta festa sejam colhidos durante o restante do ano e até o próximo círio”, acrescentou.
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O pequeno Talyelson agradecendo a Virgem de Nazaré (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
Em meio a um publico de devotos que reúne homens, mulheres, negros, brancos, índios e membros de diversas classes sociais, as crianças e adolescentes formavam o maior grupo de promesseiros. Este foi o caso, por exemplo, de Talyelson Ferreira, de apenas 13 anos, que seguiu a procissão carregando uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
A promessa do jovem foi um sinal de agradecimento que cumpre desde 2012, quando tinha somente 9 anos de idade. “Naquele ano a minha avó adoeceu do coração. Precisava fazer uma cirurgia que na idade dela é muito arriscada. Foi então que eu pedi para Nossa Senhora dar a saúde dela e, desde então, eu venho na procissão agradecendo”, contou feito gente grande. A avó, dona Guelmarina Ferreira, 81 anos, caminhou ao lado do neto durante a procissão.
Outra manifestação muito comum entre os promesseiros do Círio de Nazaré em Vigia é a túnica branca usada para pagar promessa. No geral, as mulheres foram as que mais usaram a vestimenta. “No início do ano eu apresentei um quadro de mioma. Fiquei muito debilitada e a cirurgia podia ser de alto risco. Foi então que uma irmã minha fez a promessa de que se me curasse desta enfermidade eu viria vestida com uma túnica branca, para agradecer Nossa Senhora. Graças a Ela hoje tenho forças e vim cumprir o que a minha irmã prometeu”, comentou romeira Edna Maria Araújo, 47 anos.
A procissão chegou às 11h50 – 40 minutos antes do que estava previsto pela diretoria da festa - a Igreja Matriz Madre Deus. O sinos do templo badalaram o fim de mais uma edição do Círio de Nazaré, em Vigia. Um altar foi montado no palco em frente a paróquia e uma missa celebrada.
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Chegada da imagem de Nossa Senhora de Nazaré (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
História de fé e tradição
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FOTO: DENILSON D'ALMEIDA |
Segundo o historiador Clerison Saraiva, 33, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré, em Vigia, começou no período da colonização por portugueses. “Documentos comprovam que por volta dos anos de 1700 os padres Jesuítas trouxeram uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré e introduziram a devoção na cidade. Diversas pesquisas estão sendo realizadas para confirmar isto”, frisou.
Para ele, o Círio de Nazaré representa, hoje, a identidade da cidade. “O nosso Círio é tombado como patrimônio imaterial e cultural do Estado Pará e possui uma tradição muito forte”, completou Clerison.
O padre José Carlos Silva, que compõe a diretoria da festa, apontou que o primeiro círio de Vigia foi realizado em 1697, época em que os missionários jesuítas começaram a anunciar o evangelho na região.
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Carro do fogueteiro é puxado por boi. O fogueteiro tem a missão de abrir a romaria soltando fogos durante o cortejo, para anunciar a passagem da padroeira. (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
Carro de promessas lembra da devoção dos pescadores e marinheiros à Nossa Senhora de Nazaré.
(FOTO: DENILSON D'ALMEIDA)
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Moradores de Vigia montam altares em devoção a Virgem de Nazaré e da sacada garantem uma vista privilegiada da procissão. (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
Banda 31 de agosto na romaria.
(FOTO: DENILSON D'ALMEIDA)
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Vista lateral da berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, durante a procissão. (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
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Chegada da imagem de Nossa Senhora de Nazaré a igreja Matriz Madre Deus. (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
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Bispo D. Carlos Verzeletti abençoa os romeiros ao termino da romaria. (FOTO: DENILSON D'ALMEIDA) |
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