Propaganda móvel em Belém

Eles andam lentamente pelas ruas da cidade, principalmente nos bairros periféricos. Apesar da passagem ser rápida, leva tempo o suficiente para que a sua mensagem - seja ela qual for - seja transmitida. Começou em carros e demais veículos automotores e agora existem até em bicicletas. Os carros-som estão por toda parte e em várias cidades do país e garantem o sustento familiar de dezenas de trabalhadores autônomos, que ganham a vida com a "propaganda móvel". No entanto, para exercer esta atividade é preciso estar com o carro em situação regular junto aos órgãos de trânsito e ainda solicitar uma Licença Anual, junto a Divisão de Polícia Administrativa (DPA), da Polícia Civil. Em Belém, apenas seis veículos tem permissão para fazer propaganda móvel pela cidade. No caso particular das bicicletas que fazem este serviço, as chamadas de "Bike-som", não existe ainda nenhuma regulamentação específica.
A atividade é mais antiga do que se imagina e o anúncio tem repercussão imediata. Pelo menos, é o que garante os propagandistas móveis da cidade -s também chamados de "boca de ferro ambulante". A falta de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas sem mão de obra especializada, leva muitos pais de família a procurar esta atividade. Este é o caso do autônomo Dilomar Lima Amaral, 44 anos, mais conhecido como o "Cabelinho de Fogo".
Ele pedala cerca de dez quilômetros todos os dias, em sua bicicleta equipada com um aparelho de Mini-DVD, mesa e caixa de som, microfone sem fio; para divulgar serviços e empresas que o contratam por um preço simbólico. A Bike-som é personalizada e circula pelos bairros do Guamá, Terra firme e Cremação. "Aqui a propaganda pode ser tanto gravada quanto feita ao vivo, o cliente é quem escolhe", anuncia.
Seu jeito extrovertido chama a atenção das pessoas que realmente para ouvir o que ele está "vendendo". Em um intervalo de 10 minutos ele topou conversar com a reportagem para falar dessa atividade, muito comum na periferia de Belém e que já chegou em outros municípios.
Questionado sobre como classifica o seu trabalho, o Cabelinho de Fogo se considera um propagandista que faz a divulgação do serviço oferecido por diversos de seus clientes. Ele já está nesta função há oito anos. Quanto ganha em cada por cada anúncio que faz, ele prefere não comentar, mas em um jeito "marketeiro" entrega o cartão e diz que se precisar de seus serviços é só entrar em contato.
Preocupado com qual seria o teor da reportagem, comentou de imediato que sabe que esta atividade, de "Bike-som", não tem nenhuma regulamentação. "Somos alvos constantes de discriminação, mas é com isso que a gente garante o sustento da família", ressaltou Dilomar.
Mesmo sem alguma Licença específica, o trabalho destes agentes deve estar de acordo com as Leis Ambientais e eles devem respeitar o limite de som permitido - que durante o dia é de 55 decibéis. "A Dema (Delegacia de Meio Ambiente) sempre fica em cima porque temos limites de volume para agir, mas eu, particularmente, nunca sofri nenhuma autuação", disse Cabelinho.
Caráter histórico e social

Cabelinho acredita que esta atividade foi impulsionada por Bento Maravilha, que mora no Jurunas, e sempre trabalhou com a instalação de trios elétricos e carros-som. Para Bento, os carros-som tem uma função que vai muito além da propaganda. Eles estão presentes em diversas manifestações da sociedade civil organizada que luta por seus direitos.
Quando se tem uma caminhada feita por professores da rede pública de ensino, por exemplo, entre os trabalhadores sempre segue um carro-som utilizado para reproduzir a fala das lideranças. Na década de 1990, os carros-som eram muito ultizados por alunos, sobretudo os que protestavam por situações que envolviam a Meia Passagem Estudantil ou aumento da tarifa de ônibus.
Hoje, quem mora em bairros da periferia não estranha quando passa um carro-som vendendo sorvete e anunciando o preço. Pelo contrário, alguns populares vão para a frente de suas casas esperar o veículo passar e comprar o doce.
A história dos carros-som de certa forma também está ligada ao imaginário de centenas de pessoas, que viveram a década de 1980 e início de 90. Basta perguntar aos mais antigos quantas vezes o carro da kiboa passava durante a semana. "Ele passa uma vez por semana, traga o litro. Traga o litro". A partir daí esta atividade foi aderindo a novos segmentos e hoje vendem qualquer tipo de serviço e produto.
Até hoje, não se tem conhecimento se os agentes de propaganda móvel possuem alguma associação específica, uma vez que neste ramo eles trabalham por conta própria. "Nós já tivemos algumas reuniões com a Dema lá na casa do Bento e a delegada (na qual ele não lembra o nome) nos falou a respeito da poluição ambiental (no caso, a sonora)", frisou o autônomo.
Particularidades da regulamentação

A diretora da Divisão Especializada da DPA, delegada Deyse Ramos de Castro, desconhece se existe alguma exigência específica para a regulamentação das atividades de Bike-som, por se tratar de um caso particular que precisa ainda ser conhecido para poder ser debatido. "Não se tem conhecimento de alguém que solicitou um alvará para este segmento de "bike-som", eu sei que para carro tem", observou a delegada.
De acordo com Deyse Ramos, a DPA tem apenas a função de fazer a vistoria no veículo equipado com som para que seja emitida o Alvará de licenciamento. Somente seis carros-som tem esta licença para funcionar, a maioria destes atuam pelo Centro Comercial de Belém. "Quase não há denuncias contra carros-som. Isso ocorre mais com estabelecimentos comerciais. O que pode acontecer é que o trabalho de propaganda móvel esteja de acordo com a Legislação Ambiental", atentou a delegada. Em caso de ter existido alguma denuncia, caberia a Dema investigar.
Sobre o Alvará de Licença a delegada ressalta que qualquer propagandista móvel pode tirar. Para isso ele vai até a DPA, que funciona na sede da Delegacia Geral, e paga uma taxa de R$ 172,01 para pedir a Licença. Em seguida, um perito faz a vistoria e checa a documentação do veículo, a instalação elétrica e também a mecânica para poder emitir o Alvará.
Deyse finaliza que muitos propagandistas móveis deixam de pedir o a Licença por causa das condições em que o veículo se encontra. "Geralmente são carros velhos e que estão com a documentação atrasada. Por isso, eles trabalham mais na periferia onde este tipo de fiscalização é menor", finalizou a diretora.


FOTO EXTRAÍDA DA INTERNET*

Comentários

  1. Denilson, estou precisando contratar esse tipo de serviço, bike som. Você tem o contato do Cabelinho ou de algum outro para me passar? Italo italoaarocha@gmail.com

    ResponderExcluir

Postar um comentário