O boi "Luar do Marco" é um dos 23 grupos de Boi-Bumbá que participarão do Arraial Junino 2011, da Fundação Cultural de Belém (Fumbel), que começa em 3 de junho, nas praças Waldemar Henrique, Dalcídio Jurandir e no Memorial dos Povos. Os ensaios começaram há mais de dois meses em oito bairros da periferia de Belém e também nos distritos de Icoaraci, Mosqueiro e Outeiro, além de municípios da Região Metropolitana de Belém. O Arraial Junino segue até 19 de junho e espera reunir mais de três mil pessoas em cada noite de evento.
Na Rua Esperança, no Marco, as noites são marcadas pelos tambores do "Luar do Marco", que ensaia as toadas do espetáculo deste ano. Músicos, índios, caboclos, o vaqueiro, a Sinhazinha, o pajé, os caçadores e o personagem central do grupo: o boi Luar do Marco. O grupo é formado por 35 jovens da comunidade e mais os coordenadores.
O enredo gira em torno da morte e ressurreição do boi, uma mistura de drama, tragédia, comédia e sátira. O "vaqueiro", interpretado por Cristóvão Costa, 20 anos, desafia o boi para demonstrar seu controle sobre o animal. "O momento mais emocionante é a morte do boi, um dos pontos máximos do espetáculo", diz Cristóvão.
Este ano, o "tripa" (ator que veste o boi) é Anderson Andrade Lobato, 18 anos, há seis no boi. "Já fui o 'pai Francisco' e o 'vaqueiro', este ano pedi para ser o 'tripa'", disse Anderson, para quem o peso do boi não representa dificuldade. "Na hora da apresentação, a gente consegue fazer com que as pessoas dancem e tudo se torna uma alegria. Não dá para sentir o peso", frisou. O boi consiste numa armação, coberta de veludo bordado.
Os ensaios acontecem em frente à casa do fundador do "Luar do Marco", Nilson Rodrigues, cujos vizinhos se sentam em frente de suas casas para prestigiar os brincantes. O boi surgiu de uma brincadeira na escola onde Nilson estudou há dez anos. "Depois da conclusão do curso sentimos a necessidade de manter viva esta manifestação cultural. Hoje, ensinamos os jovens da comunidade que participam voluntariamente", disse.
Rafael da Silva, 20 anos, toca tambor e diz que a união entre os jovens tem contribuído para eliminar situações de risco. "Aqui a gente forma uma família. Somos todos parceiros, cada um ajuda o outro com o que sabe", afirmou.
O figurino ainda não ficou pronto. Nilson atribui o atraso à falta de recursos. "Foi difícil conseguir apoio financeiro". Além da apresentação na Fumbel, o Luar do Marco foi convidado a ir a Santarém Novo, no nordeste paraense, mas ainda depende de patrocínio para a viagem.
O Bumba meu boi ou Boi-bumbá é uma manifestação cultural presente em todas as regiões brasileiras. A professora de música da Universidade Estadual do Pará (Uepa) Jorgete Lago pesquisou os aspectos musicais e a história do Boi-bumbá em Belém. Os primeiros registros são do século XIX, por meio de notícias nos jornais dando conta de qu o boi-bumbá era quase proibido por lei, já que a elite desqualificava a manifestação. "O preconceito social e cultural acompanhou os grupos de bois-bumbás durante muito tempo. Quando passaram a ocupar teatros e praças da cidade (na metade do século XX), começaram a alcançar certo reconhecimento e passaram a ser qualificados como folclore a ser preservado", resumiu a pesquisadora
A valorização do Boi-bumbá só aconteceu na metade do século XX, quando foram criadas políticas públicas para preservar esta manifestação. A partir daí, as apresentações deixaram a periferia para os concursos e festivais no centro urbano. O Boi-Bumbá está presente em vários municípios paraenses. "Apesar do reconhecimento dos grupos, pelo seu valor folclórico, a produção ainda é feita por pessoas que moram nas periferias, pessoas com baixa escolaridade, baixo poder aquisitivo e que tem na manifestação seu lazer e seu patrimônio", diz Lago.
O incentivo financeiro reclamado por todos os coordenadores de grupos de boi-bumbá - e também pelos grupos de Pássaros Juninos, Parafolclóricos e Quadrilhas - também é abordado pela pesquisadora. Ela também afirma que o subsídio oferecido pelos órgãos públicos que trabalham com a Cultura é pouco, porém melhores que antigamente quando nem existiam. "Não tenho solução para o problema, mas levanto algumas proposições tais como, editais exclusivo para os grupos, viabilização de incentivos em empresas particulares, além do próprio incentivo do governo, propostas estas referentes a recursos financeiros", sugere Jorgete. "Os grupos não necessitam somente de fomento financeiro, mas de outros incentivos também", observou.
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