Está além da força humana

No mês de outubro
em Belém do Pará
são dias de alegrias e muita fé
Começa com intensa romaria matinal
o Círio de Nazaré...
Aderbal Moreira, Dario Marciano e Nilo Esmera Mendes, que me desculpem mas comecei usando parte de uma de suas composições.
Desde meus 13 anos de idade que acompanho a 3ª maior procissão do mundo, falo do Círio de Nazaré. Ao longo desses nove anos como romeiro, sempre me impressionei com as inúmeras maneiras de demonstrações de fé que leva mais de 2 milhões de pessoas às ruas de Belém para pagarem suas promessas, agradecerem graças alcançadas e pedir bênçãos a mãe do filho de Deus.
Estou falando de promesseiros que percorrem 4 km de romaria de joelhos e até engatinhando, de pessoas que levam tijolos, telhas, maquetes, de pais e mães que vestem seus filhos de anjos, de pacientes curados de doenças incuráveis que carregam nas mãos partes do corpo humano feito em cera, de pessoas que se solidarizam distribuindo água para os verdadeiros heróis pagadores de promessa - o povo que por alguma grande razão acompanham o Círio e a Trasladação na Corda.
A três anos atrás fiz a promessa de que quando eu entrasse na universidade iria na corda da Trasladação, procissão noturna que antecede o Círio. Afinal, sempre escutava que ela era dos universitários, e realmente o é. Durante a colocação da corda entre os promesseiros até os Guardas do Santa brincam:
- UEPA de um lado e UFPA de outro.
A Trasladação tem início as 18 horas, mas as 15 eu já estava lá para garantir o meu lugar. Aliás, assim como todo promesseiro que vai na corda tem que estar lá pelo menos três horas antes, do contrário corre o risco de não conseguir vez. Nas primeiras duas horas de procissão, ainda não tínhamos percorrido nem 500 metros dos 4 km de caminhada, o que já fazíamos crer que não chegaríamos tão cedo a Catedral da Sé.
A minha mão esquerda já estava cheia de calos, quase não tinha mais força para fechá-la, meu peito e minhas costas doíam, na coxa esquerda onde a Corda encostava um hematoma se fez presente, a temperatura de nossos corpos parecia estar ultrapassando os 40° C e sede era tão grande quanto a nossa fé. O esparadrapo que meu amigo Cláudio tinha enrolado nos dedos dos meus pés para amenizar as dores dos pisões foram arrancados sem eu perceber, na verdade chega um momento em que você chega a não sentir seus próprios pés, e no fim parece que não andamos com eles.
Aos cientistas que acreditam que na exatidão da ciência, não pirem! Porque a lei [física] da impenetrabilidade que diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço (num mesmo espaço de tempo) é furada! Para comprovar basta ir na corda do Círio ou no mínimo, perguntar a quem já foi. E os cálculos matemáticos que tentam calcular a força resultante que faz com que a Berlinda se locomova e a corda puxe a Berlinda não são válidos... É impossível se calcular o tamanho da fé daqueles promesseiros que desafia até a inércia.
Esta fé é vista nos rostos cansados, nos romeiros que bravamente vão na corda, mas que se derretem em lágrimas ao ver crainças vestidas de anjo cantando AVE MARIA, nos arrepios que sentem os quem vêem a passagem da corda trazendo a Berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré... E naquelas vozes, que não sabemos de onde vem a força para gritar VIVA NOSSA SENHORA DE NAZARÉ! VIVA! VIVA! VIVA!... ou ainda NOSSA SENHORA, PODE ESPERAR. A TUA CORDA VAI CHEGAR!...
É na corda que não sentimos o chão tremer quando milhares de fogos de artifício são explodidos para homenagear a Nazica. É na corda que vemos que a fé pode sim remover montanhas. É na corda que concluímos que FÉ não se explicar, apenas se sente...
É na corda que pude perceber que fé, está além da força humana.
Que maravilha a procissão
E como é linda a Santa em sua berlinda
E o romeiro a implorar
Pedindo a Dona em oração para lhe ajudar
Oh! Virgem Santa
Olhai por nós
Oh! Virgem Santa
Pois precisamos de paz.

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