Este trabalho apresenta os contextos históricos e culturais sobre a imigração dos negros do Caribe Inglês para a região norte. Denominados de barbadianos, vieram para Belém no início do século XX, passando a construir um novo contexto sócio-cultural, eles contribuíram para o crescimento econômico, bem como, participaram efetivamente como mão-de-obra para construção da cidade, nos âmbitos de infra-estrutura e transporte. Por meio de pesquisas historiográficas, de campo e a realização de entrevista com descendentes de barbadianos, neste trabalho consta principalmente informações baseadas na tese de mestrado da antropóloga Maria Roseane Corrêa Pinto Lima, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e também nas pesquisas levantadas por uma estudante de história e descendente de barbadianos, Karina Barroso da Silva, para o seu Trabalho de Conclusão de Curso que será defendido agora no final do ano.
Pesquisa Historiográfica
A pesquisa historiográfica foi realizada através de artigos científicos, jornais, revistas culturais e sites relacionados à imigração dos barbadianos na região norte, bem como, em Belém. Também procuramos estabelecer contato com descendentes de barbadianos e encontramos uma estudante de história cujos ancestrais são barbadianos e ela não se considera uma barbadiana, entretanto tem se dedicado a estudar o processo migratório de seus antepassados e perda da identidade deles ao se considerarem brasileiros.
Barbadianos é o termo atribuído aos negros estrangeiros vindos das áreas de colonização inglesa (Barbados), localizadas no Caribe. O processo de imigração ocorreu na região norte, nas cidades de Belém, Porto Velho, entre outras cidades da Amazônia.
O termo "barbadiano" foi empregado a estes imigrantes não somente como uma forma de indicar a sua origem ou nacionalidade destes, mas também como uma forma de identificação global, atribuída aos negros estrangeiros, não introduzidos aqui como escravos, que vieram, desde o início do século XX.
Uma massa de operários de diferentes países migrou para a região amazônica para a construção da estrada de ferro Madeira Mamoré (também conhecida como a Ferrovia do Diabo) bem como, para outras áreas, como Belém, na construção da infra-estrutura, do comércio e do transporte. Vale ressaltar que a vinda dos negros de Barbados se deu em um contexto diferente da trazida de negros da África, os barbadianos representaram uma mão de obra qualificada e uma cultura completamente diferente.
Os barbadianos eram procedentes de diversas localidades centro-americanas: Barbados, Trinidad, Jamaica, Santa Lúcia, Martinica, 13 São Vicente, Guianas, Granada, e outras ilhas das Antilhas. Introduzindo uma imigração diferenciada, composta por negros diferentes dos descendentes de escravos africanos, por seus nomes, idioma e condições sociais.
Entrevista com Karina Barroso da Silva – estudante de história da UFPA, descendente de barbadianos.
Como você avalia a imigração barbadiana na Amazônia?
A presença dos imigrantes barbadianos no Brasil, em especial Belém do Pará, é fato que merece ser observado com esmero. Quando pensamos nos diversos fluxos migratórios para a região amazônica logo lembramos da fase áurea da borracha com toda a sua explosão sócio-econômica e cultural, e a presença desses imigrantes tão enigmáticos.
Pensamos primeiramente no choque cultural, as mulheres negras com seus chapéus e seus vestidos bem cortados, os homens que vieram para trabalhar fossem na Ferrovia Madeira Mamoré ou nas firmas inglesas aqui estabelecidas e que aqui tentaram manter seus costumes e concomitantemente se integrar a sociedade. Mas desconstruindo o imaginário de que muitos barbadianos vieram para trabalhar nas firmas inglesas, vemos também que muitos vieram para trabalhar em serviços pesados e que muitas barbadianas figuravam entre as melhores e mais caras lavadeiras da cidade.
Você é descendente de barbadiano. Mas hoje percebemos que a cultura brasileira nos remete a várias identidades. Karina, como você se identifica?
Eu enquanto descendente de barbadianos, gostaria de poder elencar inúmeros traços identitários com os quais pudesse afirmar que há muito de barbadiano em mim. Contudo infelizmente só posso afirmar que da minha descendência ficou somente, e afirmo sobre este prisma que felizmente, o conhecimento da história da minha família, os Mottley's.
Mas a mim, não restou nem o sobrenome, pois minha bisavó, que nasceu em Barbados em 1916 e que faleceu em janeiro deste ano, com o tempo viu seu sobrenome dar lugar aos sobrenomes dos maridos de suas netas, presenciou também o abrasileiramento de seu sobrenome de Mottley para Mota e por fim não teve o prazer de conversar com seus filhos, netos e bisnetos em sua língua natal. Durante a minha pesquisa conheci um senhor cujo sobrenome é Reis e o de seu pai era King.
Além das alterações de sobrenomes, o que mais mudou na cultura barbadiana?
Não acredito que a valorização da cultura barbadiana, no caso da minha família ou de outras famílias seja querer retomar de onde eles pararam, quando deixaram de freqüentar a Igreja Anglicana, quando deixaram de enfatizar sua ascendência barbadiana pois o que aconteceu com Os Mottley's foi o que aconteceu com muitas famílias de imigrantes barbadianos e antilhanos, se incorporaram a sociedade, estabeleceram outros laços, o inglês deu espaço ao português, os pratos típicos cedeu lugar as comidas regionais e o anglicanismo deu lugar ao catolicismo, igrejas neopentencostais e a religiões afro-brasileiras.
Você encontrou alguém nas gerações atuais, digamos assim, que ainda conserve a cultura barbadiana?
Todavia é com muita alegria que ainda vejo muitas famílias de descendentes de barbadianos ainda freqüentando a Igreja Anglicana, no domingo pela manhã, que me perguntaram com educação procurando estabelecer o laço que os identifica quanto barbadianos : "Do you speak english?" E eu respondi com um sorriso sem graça: No...
Para a gente encerrar, não podia deixar de perguntar sobre a sua pesquisa, o que você espera alcançar com ela?
Podemos observar que agora há mais de um século da imigração barbadiana para Belém, se não ficaram muitas famílias que afirmam meus avós, meu bisavós eram barbadianos, mas ficaram as memórias dessas pessoas, fossem, quando falavam inglês ou até mesmo quando falavam " naquele tempo era assim..." "Naquele tempo quando meus avós vieram para Belém, as ruas, as pessoas eram...". O que podemos fazer e escutar, compreender e tentar "resgatar" essas memórias para que possamos conhecer o nosso passado e assim tentar preencher estas lacunas.
Indicação Bibliográfica:
LIMA, Maria Rosane. Ingleses Pretos, Barbadianos Negros, Brasileiros Morenos? Identidades e Memórias (Belém, Século XX e XXI). Dissertação de mestrado, UFPA. 2004
Muito interessante, principalmente pela influência religiosa que essa sociedade deve ter trazido para o Pará. Gostaria de saber mais sobre o assunto.
ResponderExcluirEles frequentavam a Igreja Anglicana. Hoje alguns descendentes ainda frequentam...
ResponderExcluirSensacional! Minha mãe, descendente de portugueses, tinha como cozinheira uma "barbadiana" a quem ela atribui os ensinamentos de muitas de suas receitas e conhecimentos populares, como, por exemplo, o uso do leite de maçaranduba no tratamento de doenças pulmonares. Minha mãe tem, hoje, 87 anos e, junto comigo, meus irmãos e meu pai, que também tem 87 anos, adorou ler os artigos deste blog. Parabéns por dar fôlego à nossa cultura amazônica.
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ExcluirOlá José Ricardo dos Santo, gostaria de saber um pouco mais sobre a senhora cozinheira "barbadiana". Se alguém em aqui de Belém, possui mais informações a respeito da presença dos barbadianos, como aqui foram chamado os afro-antilhanos, gostaria de compartilhar as mesmas. Por favor, entre em contato comigo por e-mail: marcos_felder@hotmail.com .
ExcluirObrigado, José!
ResponderExcluirEsta sabedoria popular me fascina, adoro conhecê-la.
Aqui em Rondônia, especificamente em Porto Velho, ainda vivem descendentes de barbadianos. Mas, ao contrário dessa moça, eles não concedem entrevistas. Aqui, podemos citar a família Holder.
ResponderExcluirÉ importante conhecermos a história de nossa região, é voltar ao passado.
Parabéns.
Que legal a pesquisa, sou descendente de barbadiano, minha avó partena, aqui em Manaus todos que conheço com sobrenome DONALD são descedentes de minha avó.
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